A Revolução do VHS
Hoje não tinha que fazer e deu-me para cuscar o que andava esquecido na box da TV.
Ou melhor, até podia ter que fazer se assim o quisesse, mas não estava para aí virado.
Adiante.
De entre uma miríade de filmes, documentários e coisas que tal, reparei neste documentário de apenas 1 hora que encaixava que nem um lego na minha tarde.
Pensei que iria ser somente uma viagem ao saudosismo, como está tão em voga, mas obviamente, e para surpresa de ninguém a não ser eu, tornou-se mais que isso.
Eis a sinopse da sinopse do sítio da RTP:
"A incrível e louca história da pequena caixa preta que revolucionou a nossa vida e se tornou num objeto de culto.
Nos anos 1980, o VHS soprou ventos de liberdade desde os Estados Unidos até à Rússia. O último fabricante de cassetes vídeo terminou a produção em 2016. Mas o VHS ainda resiste. Uma geração inteira cresceu com cassetes vídeo e sentiu-se livre por sua causa. Ser capaz de gravar libertou-nos da ditadura dos programas de televisão, provocando a ira dos estúdios e canais que viram diminuir as receitas do cinema e da publicidade."
Esta hora foi um tomar consciência do percurso das cassetes VHS ]quem se lembra delas que levante a mão [, desde a célebre batalha entre o Betamax e o VHS, até aos dias digitais de hoje e de como isso influenciou a nossa interacção com filmes e programas de televisão, entre outras coisas talvez até mais importantes.
Com o advento do VHS, podia-se agora criar filmes de forma amadora, apareciam realizadores e produtores caseiros de entre o público e aficcionados - democratizou-se o filme e o filmar.
Claro que as grandes produtoras por detrás dos filmes não gostaram, e puseram o VHS em tribunal, mas isso não impediu a sua divulgação e posterior massificação em casa das pessoas e para novos negócios que daí surgiram.
E fazendo lembrar o que agora se passa com a aceitação das criptomoedas por parte das grandes instituições financeiras, as grandes produtoras de filmes tiveram de se converter a vender filmes em cassetes, e daí extraíram grandes lucros.
Apreciei também ver como passadas tantas décadas e gerações se terem renovado, o que se via nas cassetes e o que se vê agora nos Youtubes e Vimeos da vida se mantém tão semelhante:
Vídeos de pessoas a fazer exercício, vídeo amadores disto e daquilo, filmes...
Claro que muitas outras coisas apareceram e outras pelo contrário deixaram de existir ou pelo menos não entram no meu radar e com pena minha : vídeos de exercício enquanto se reza ]ri-me[, vídeos de exercício enquanto se tem o bebé ao colo ]não sei se continuam a existir, mas porque não. Ri-me outra vez quando mostraram clipes destes vídeos[.
Que ruim, bem sei.
No entanto, perdeu-se também algo que considero precioso e que faz falta.
No momento de aluguer de cassestes, especialmente no seu início, havia uma cultura de falar com pessoas enquanto se escolhia e alugava uma cassete. Agora seguimos as dicas que os algoritmos nos dão.
Triste, não?
Perdeu-se isso e não sei que mais de valor ter-se-á perdido...
Algo que não tinha noção mas não posso deixar de partilhar: filmes pornográficos foram grandes impulsionadores dos VHS.
Obrigado, porno. Muito honestamente, obrigado.
E "obrigado VHS" dirão também os países subjugados por regimes ditatoriais, pois as cassetes vieram trazer contraditório e mensagens de liberdade e exposição de problemas, e como tal foram uma forma de escape do povo em países comunistas (URSS) - "uma revolução da imaginação".
Foram combatidas por alguns dos governos, mas no fim, a clandestinidade veio trazer-lhes força e até misticismo.
Claro que este tipo de documentário não poderia ser feito sem os testemunhos e bases de dados de coleccionadores, tanto de VHS como de Betamax.
E nós, que vamos agora coleccionar??